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Vida de Gṛhasta - casado


11/maio/2012 - Holanda

Hoje desejo falar sobre a razão do nosso guru-varga estar vindo da Índia aos países ocidentais. Qual é a razão e que mensagem eles estão oferecendo aos ocidentais? Essa mensagem é sobre como podemos adentrar e praticar śuddha-bhakti. Śuddha-bhakti significa serviço devocional puro ao Senhor - bhakti pura - um assunto que é tratado em todos os Vedas.

No Śrīmad Bhāgavatam, Śukadeva Gosvāmī pāda disse o seguinte a Parikṣit Mahārāja:

loke vyavāyāmiṣa-madya-sevā

nityā hi jantor na hi tatra codanā

vyavasthitis teṣu vivāha-yajña

surā-grahair āsu nivṛttir iṣṭā

(Śrīmad Bhāgavatam 11.5.11)

“Neste mundo material, as almas condicionadas estão sempre propensas ao sexo, consumo de carne e intoxicação. Portanto, as escrituras religiosas na verdade jamais encorajam essas atividades. Embora os preceitos escriturais prescrevam o sexo através do matrimonio sagrado, o consumo de carne através de oferendas sacrificatórias e a intoxicação através da aceitação de taças de vinho em rituais, semelhantes cerimônias visam elevar ao propósito último: a renúncia”.

[E no Manu-saṁhitā encontramos:]

na māṁsa-bhakṣaṇe doṣo

na madye na ca maithune

pravṛttir eṣā bhūtānāṁ

nivṛttis tu mahā-phalā

(Manu-saṁhitā)

“Pode-se considerar que o consumo de carne, a intoxicação e a atividade sexual são propensões naturais das almas condicionadas. Portanto, tais pessoas não devem ser condenadas por essas atividades. Mas a menos que o indivíduo abandone tais atividades pecaminosas, não há possibilidade de se alcançar a verdadeira perfeição da vida.”

Os Vedas discorrem sobre essas questões. Loke vivāha –significa que as almas condicionadas podem se casar (vivāha) e também podem consumir carne e álcool. Mas porque os Vedas estão dizendo isso?

“pravṛttir eṣā bhūtānāṁ nivṛttis tu mahā-phalā” (Manu-saṁhitā)

Para que aqueles que estão seguindo pravṛtti-marga (o caminho dos prazeres) gradualmente adentrem o nivṛtti-marga. Nivṛtti-marga significa adotar a ordem de renúncia e dedicar-se a vida devocional.

Há dois tipos de seres humanos neste mundo material. Uns seguem o pravṛtti-marga e outros, o nivṛtti-marga. Pravṛtti-marga são atividades focadas em como se obter a gratificação dos sentidos e nivṛtti-marga significa renunciar completamente, desapegar-se de todas as coisas materiais e adentrar a consciência de Kṛṣṇa. Portanto, os Vedas também oferecem instruções àqueles que estão muito envolvidos em gozo sensório. A este respeito as escrituras instruem acerca da maneira pela qual um indivíduo poderá comer carne, casar-se e também ingerir álcool. Porém, como se pode conciliar essas coisas? Porque vocês deveriam se casar? Vivāha (casamento) não é o nosso objetivo. O śāstra (escritura) oferece evidências sobre as diferentes ordens de vida, brahmācharya, gṛhasta, vānaprastha e sannyāsa:

cātur-varṇyaṁ mayā sṛṣṭaṁ

guṇa-karma-vibhāgaśaḥ tasya kartāram api māṁ

viddhya kartāram avyayam

(Śrīmad Bhagavad Gītā 4.13)

“De acordo com os três modos da natureza material e o trabalho associado a eles, as quatro divisões da sociedade humana foram criadas por Mim. Porém, mesmo Eu sendo o criador desse sistema, saiba que ainda sou Aquele que não age, pois sou imutável.”

Kṛṣṇa diz na Śrīmad Bhagavad Gītā, há quatro varṇas e aśramas. Brahmāchari, gṛhasta, vānaprastha e sannyāsa [são os aśramas]. Brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya e śūdra [são os varṇas].

Brahmācharis devem ser celibatários por toda a vida, ou até os vinte, vinte e dois anos. Se após a idade de vinte e dois anos eles não puderem controlar seus sentidos, então devem entrar para a vida de grhasta, mas por vinte anos eles devem ser celibatários. Isso é chamado brahmāchari-jīvana. Eles devem estudar os Vedas, Purāṇas, Upaniṣads, Bhagavat Gītā e o Bhāgavatam, permanecer no guru-gṛha (na casa ou aśrama do guru) e seguir todos os princípios reguladores (manter-se longe da ingestão de carne, do sexo ilícito, da intoxicação e da jogatina). Se após os vinte ou vinte e dois anos, um brahmāchari não for capaz de controlar seus sentidos, então o śāstra diz que deverá aceitar a vida de gṛhasta.

Mas como ele iniciará a vida de gṛhasta? Para isso deverá se casar com uma esposa śuddha-sadāchārī (que possui um comportamento puro). Não deve se casar com muitas mulheres, como os cães, gatos ou porcos! Deve haver apenas eka patnī vrata dhāri. Deve-se adotar o voto de que: “em minha vida ficarei apenas com uma esposa e não muitas.”

Quem estabeleceu eka patnī vrata dhāri foi o Senhor Rāmachandra. Na história sobre Sua vida, que é descrita no Rāmāyaṇa, vocês poderão ver isso claramente. Quando Rāmachandra chegou a Janaka puri, todas as jovens e belas garotas sentiram-se atraídas pela beleza dEle. Elas desejavam se casar com o Senhor Rāmachandra, mas Ele disse: “Não, eu adotei o voto de que iria me casar com apenas uma esposa”. Ele foi unidirecionado, pois é o próprio Bhagavan. No entanto, disse a elas: “Ok, irei satisfazer todos os seus desejos. Após minha Rāma-līlā, quando Eu vier novamente realizar Meus passatempos (līlā) sob a forma de Kṛṣṇa, aceitarei todas vocês”. Então, todas as jovens de Janaka puri posteriormente nasceram em Vraja. Elas então foram chamadas de Vraja-gopīs. Viśvanātha Chakravartī Ṭhākura explica muito bem como elas puderam então se relacionar com Kṛṣṇa.

[Gurudeva retoma a questão]: Sitadevī também teve apenas um esposo e não muitos. Portanto, isso é varṇāśrama dharma; após brahmacharya-jīvana vem gṛhasta-jīvana. Dessa forma, uma licença foi dada a vocês para que possam adentrar a vida de chefe de família, mas deverão ser cuidadosos. Isso é cultura védica e primeiro vocês devem segui-la, estabelecendo o varṇāśrama-dharma. Sem seguir o varṇāśrama-dharma vocês jamais poderão adentrar a vida espiritual. Em nosso guru varga, nitya-līlā Bhaktivedānta Śrīla Svāmi Mahārāja e Śrīla Gurudeva [Narayan Gosvami Mahārāja] discorrem sobre isso.

Por exemplo, os animais não seguem o varṇāśrama-dharma. Para eles não há uma cerimônia de casamento. Alguém aqui já foi a cerimônia de casamento das vacas, cães, burros e outros? Eu nunca fui convidado. Isso é porque os animais estão apenas desfrutando da gratificação dos sentidos. Isso é chamado paśu-jīvana, vida animal, e é vã. No entanto, os Vedas explicam que agora uma permissão foi dada a vocês para poderem se casar com uma esposa, permanecer com ela e ambos devem servir Rādhā e Kṛṣṇa.

“Putrārthe kriyate bhāryā” (Manu-smṛti)

“Uma esposa é necessária para se gerar filhos”.

As escrituras explicam que se deve unir a uma esposa apenas para se ter filhos. Vocês não devem agir como os cães e suínos. Bhaktivinoda Ṭhākura explicou o varṇāśrama-dharma de forma muito clara em seu Jaiva Dharma e isso é algo muito importante. Quando se alcança pañchāśat, cinquenta anos de idade, a vida familiar deve ser deixada para se assumir vānaprastha-jīvana. Vānaprastha-jīvana significa que após os cinquenta anos deve-se abandonar o apego por esposa, filhos e outros. Nesse momento, pode-se ir a um local solitário com sua esposa apenas para meditar no Senhor. Isso é chamado Bhagavat-smaraṇa. Então, quando estiverem completamente desapegados de tudo, devem então assumir a ordem de renúncia. Isso é chamado sannyasa-jivana. Dessa forma os Vedas explicam tudo isso.

“loke vyavāyāmiṣa-madya-sevā”

Os Vedas também discorrem sobre o meio pelo qual se pode ingerir a carne. Como pode ser possível? Quem comerá carne? Sim, os Vedas tratam a respeito dessa questão. Quem pode comer (a) carne e como as comerá? Isso é somente para aqueles que não conseguem controlar a língua. Os Vedas dizem: “Tudo bem, você pode ingerir carne. Mas deverá realizar um grande sacrifício de fogo (yajña) uma vez ao ano. Não poderá comer carne todos os dias, mas uma única vez ao ano. E como obterá essa permissão? Um grande sacrifício, onde terá que gastar muito dinheiro deverá ser realizado e somente após isso, poderá comer a carne”. Da mesma forma, vocês também podem tomar bebidas alcoólicas. Se não conseguem controlar os seus sentidos, realizem um grande soma-yajña e então tomem o álcool. Porém, percebemos que as pessoas pensarão automaticamente: “Por apenas um dia, uma vez ao ano poderei comer carne e para isso terei que gastar um monte de dinheiro? Não há necessidade”.

“pravṛttir eṣā bhūtānāṁ nivṛttis tu mahā-phalā” (Manu-saṁhitā)

Os Vedas providenciaram um caminho para que vocês lentamente se desapeguem de todas as coisas más. Compreendam isso, pois é muito importante. Quando esses princípios regulativos (negar a ingestão de carne, o sexo ilícito, a intoxicação e a jogatina) forem seguidos, nesse momento seremos capazes de adentrar apropriadamente bhakti-jīvana e então a vida espiritual terá início.

Tudo isso foi estabelecido por Chaitanya Mahāprabhu, pois vocês não serão liberados desse mundo material simplesmente por cantar os santos nomes.

“gaura amara gaura amara mukhe bolile nahi chale

gaura achara gaura vichara laile phala phale”

(Prema Vivarta de Jagadananda Pandit)

Pertencer a Chaitanya Mahāprabhu não deve ser apenas da boca para fora. Para isso deve-se seguir Suas instruções. O śāstra oferece evidências quanto a isso. Primeiro, estabeleçam o varṇaśrāma dharma. Pois os sāhajiyas, sakhibekis e as apasampradayas também estão cantando os santos nomes, portanto qual é o ensinamento do Senhor Chaitanya Mahāprabhu? Qual é a diferença? Ele disse: “Não, vocês devem seguir todos os princípios regulativos”.

sūta uvāca

abhyarthitas tadā tasmai

sthānāni kalaye dadau

dyūtaṁ pānaṁ striyaḥ sūnā

yatrādharmaś catur-vidhaḥ

  (Śrīmad Bhāgavatam 1.17.38)

“Sūta Gosvāmī disse: Mahārāja Parīkṣit, sendo assim solicitado pela personalidade de Kali, deu-lhe permissão para residir em lugares onde se realizassem jogos, bebedeiras, prostituição e abatimento de animais”.

Jogar xadrez é jogatina. Algumas pessoas me perguntam: “Se nós não estivermos apostando dinheiro, poderemos jogar?” Não. É completa e estritamente proibido. Vocês não podem fazer essas coisas. Dyūtaṁ significa isso (jogar). Pānaṁ (intoxicação) significa beber. Prabhupāda disse para não beber nem mesmo chá ou café, então o que dizer de álcool e outras coisas? Dyūtaṁ pānaṁ striyaḥ. Striyaḥ, isso é chamado avaidhastrī sanga (associação ilícita com o sexo oposto). É muito importante entender todas essas coisas. O Senhor Chaitanya Mahāprabhu pode tolerar tudo, mas não pode tolerar o sexo ilícito (fora do casamento). O Senhor Chaitanya Mahāprabhu era muito estrito quanto a isso. Gṛhasta, brahmacāri, vanaprastha ou sannyāsī, todos devem seguir essas regras.

“yadi caha pranaya rakhite gaurangera sane

chota-haridasera katha thake yena mane”

(Prema Vivarta, Capítulo 7, por Jagadananda Pandit)

Se vocês realmente desejam se relacionar com Chaitanya Mahāprabhu, sempre se lembrem do castigo de Choṭa Haridāsa. Chaitanya Mahāprabhu afirmou que devemos estar muito atentos. Se você é um gṛhasta, vanaprasthi, sannyāsī ou brahmacāri, seja sempre cauteloso. Vocês podem se casar de acordo com a cultura védica. Devem realizar um voto e ter um brāhmaṇa (um sacerdote vedico) e agni deva (a divindade que preside o fogo) como testemunhas disso. É dessa forma que vocês devem se casar e então podem se associar [com sua esposa]. Caso contrário, se vocês se relacionarem de forma ilegal, isso é chamado vida pecaminosa, pāpa mayī jīvana. Compreendem? Aqueles que estão realizando essas coisas sem saber, o Senhor um dia lhes conferirá misericórdia. Mas os que fazem isso conscientemente, isso é chamado jñana-pāpi. O Senhor jamais liberará do mundo material quem realiza atividades pecaminosas caprichosamente. Milhares e milhares de vezes eles irão para naraka (os planetas infernais) e sofrerão muitos tipos de aflições lá.

“Koṇa kāle nāhi tāra gati”

Tal indivíduo jamais será liberado do oceano da existência material. É muito importante compreender isso, pois assim é a cultura vedica. Eu já expliquei anteriormente:

“jagai madhai bale,—ara nare bapa”

(Chaitanya Charitāmṛta, Madhya, 13.225)

Chaitanya Mahāprabhu disse “Jagai! Madai! Vocês devem realizar um voto de que desse dia em diante jamais cometerão atividades pecaminosas ou ofensas (aparādhā). Só então Eu os libertarei e retirarei todas as suas reações pecaminosas”. O [livro] Chaitanya Bhāgavata explica isso. Portanto, devemos realizar um voto de que desse dia em diante jamais realizaremos qualquer atividade pecaminosa. Isso é muito importante, pois caso contrário a vida é inútil, zero, e vocês terão que ir para o inferno. Ninguém poderá lhes proteger. Compreender isso é muito importante para a nossa vida espiritual. Se vocês realmente querem cantar os santos nomes e serem liberados do oceano da existência material, deverão seguir as instruções do Senhor Chaitanya Mahāprabhu.

“dyūtaṁ pānaṁ striyaḥ sūnā yatrādharmaś. . . . .

(Śrīmad Bhāgavatam, 1.17.38)

Sūnā significa jīva hiṁsa (violência contra outros seres vivos). Matar outros animais.

[Gurudeva se refere a uma das regras que também deve ser seguida: recusar-se a realizar qualquer tipo de violência incluindo a ingestão de carne].)

Portanto, os Vedas discorrem sobre todas essas questões. É dessa forma que gradualmente adentraremos śuddha bhakti. Pois bhakti não é algo barato. Não pense que apenas por cantar os santos nomes, “eu tenho bhakti”. Bhaktivinoda Ṭhākura escreveu em uma canção:

(1)

“eo to’ eka kalir celā

māthā neḍā kaupin parā, tilak nāke, galāy mālā

(2)

dekhte vaiṣṇaver mata, āsalo śākta kājer belā

sahaja-bhajan korchena māmu,

sańge lo’ye parer bālā”

(Sexta canção, Baul Sangit, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura)

‘Parer bala’- Significa que ele está realizando ‘bhājana’ enquanto se relaciona ilicitamente com as esposas de outros. Ele usa tilaka para mostrar que: “eu pertenço a Chaitanya Mahāprabhu” e canta “Hare Kṛṣṇa Hare Kṛṣṇa”. Não, isso não é bhājana, de forma alguma. Está apenas enganando a si mesmo, e também enganando aos outros. Você deve seguir as normas das escrituras. Śuddha bhakti jīvana significa permanecer em sua casa com a sua esposa e filhos e servir ao Guru e aos vaiṣṇavas.

“prabhu kahe, — “vaiṣṇava-sevā, nāma-saṅkīrtana

dui kara, śīghra pābe śrī-kṛṣṇa-caraṇa”

(Śrī Chaitanya Caritāmṛta, Madhya līlā, 16.70)

“Śrī Chaitanya Mahāprabhu respondeu, “Você deve se engajar em servir os servos de Kṛṣṇa e sempre cantar os Seus santos nomes. Se fizer essas duas coisas, muito em breve alcançará o abrigo aos pés de lótus de Kṛṣṇa.”

Não são todos que aceitarão a ordem de vida renunciada tornando-se sannyāsīs. Vocês deverão permanecer em um aśrama que esteja de acordo com a sua eligibilidade (adhikāra), cantar os santos nomes e servir ao guru e os vaiṣṇavas. Vaiṣṇava sevana nāma saṇkīrtana. Cantem os santos nomes e sirvam os vaiṣṇavas. Então mui facilmente vocês serão liberados do oceano da existência material. Os Vedas explicam isso claramente; os gṛhastas devem adotar muitas responsabilidades. Eles devem ter responsabilidades com os membros de sua família, seus filhos e com a sociedade. Além disso, com dez por cento de seus ganhos, os gṛhastas devem servir ao guru e a Bhagavan. É preciso que sigam essas normas. Dez por cento de todo o salário de vocês deve ser gasto com guru e Kṛṣṇa. Com os outros noventa por cento vocês servirão aos membros de sua família e aos demais. Esse é o processo. Qual é o significado da vida de gṛhasta? Isso não é tão fácil. A vida de chefe de família pode ser também muito dificil. Mas ainda assim todos estão correndo em direção a isso. É muito difícil encontrar um brahmacāri. Seja na Índia ou no ocidente, é muito difícil encontrar um brahmacāri.

Mas o śāstra diz que se você seguir perfeitamente as normas, a vida de gṛhasta também pode ser o mais elevado tipo de vida.

“kiba vipra kiba ‘nyasi sudra kene naya

yei krsna tattva vetta sei ‘guru’ haya”

(Śrī Chaitanya Charitāmṛita, Madhya, 8.128)

O Chaitanya Charitāmṛta explica isso. Aquele que realizou a consciência de Kṛṣṇa, ele é um guru perfeito, seja gṛhasta, vanaprastha ou sannyāsī. Portanto, procure realizar a consciência de Kṛṣṇa, isso é gṛhasta jī vana. O Śrīmad Bhāgavatam glorifica muito gṛhasta jīvana.

O próprio Nārada Rṣi certa vez foi até a casa dos Pāṇdavas e falou a respeito da vida familiar com Yudhiṣṭhira Mahārāja, o qual realizou a adoração aos pés de Nārada eficientemente. Nessa ocasião Yudhiṣṭhira perguntou humildemente a Nārada: “Como nós que somos gṛhastas podemos seguir as normas das escrituras e controlar nossos sentidos?” Essa conversa está presente no Śrīmad Bhāgavatam, sétimo canto. Nārada Yudhiṣṭhira Saṁvāda – a conversa entre Nārada Rṣi e Yudhiṣṭhira Mahārāja sobre como podemos controlar nossos sentidos.

A resposta de Nārada Rṣi a Mahārāja Yudhiṣṭhira foi que só há uma maneira:

“guru-śuśrūṣayā bhaktyā

 sarva-labdhārpaṇena ca

saṅgena sādhu-bhaktānām

 īśvarārādhanena ca

śraddhayā tat-kathāyāṁ ca

 kīrtanair guṇa-karmaṇām

tat-pādāmburuha-dhyānāt

 tal-liṅgekṣārhaṇādibhiḥ”

(Śrīmad Bhāgavatam, 7.7.30-31)

“Deve-se aceitar um mestre espiritual fidedigno e prestar-lhe serviço com grande devoção e fé. O que quer que possua deve ser oferecido ao mestre espiritual, e na companhia de pessoas santas e dos devotos deve-se adorar ao Senhor, ouvir Suas glórias com fé, glorificar Suas qualidades e atividades transcendentais, sempre meditar nos pés de lótus do Senhor e adorar Sua Deidade estritamente de acordo com as injunções do śāstra e do guru”.

“Guru-śuśrūṣayā bhaktyā sarva-labdhārpaṇena ca”, por oferecer serviço ao guru vocês podem conquistar todos os seus sentidos e alcançar o Senhor.

O Śrīmad Bhāgavatam discorre claramente sobre como entraremos para a vida espiritual. Se alguém seguir apropriadamente gṛhasta jīvana, será superior ao brahma-jñānī, ao yogī e ao tapasvī. Vou dar a vocês um exemplo de uma evidência contida no śāstra. Se lerem o diálogo entre Mahāprabhu e Rāya Rāmānanda do Chaitanya Charitāmṛta, verão que Chaitanya Mahāprabhu pediu a Rāya Rāmānanda:

“prabhu kahe, — “paḍa śloka sādhyera nirṇaya”

rāya kahe, — “sva-dharmācaraṇe viṣṇu-bhakti haya” ”

(Śrī Chaitanya Charitāmṛta, Madhya līlā, 8.57)

“Śrī Chaitanya Mahāprabhu ordenou Rāmānanda Rāya: “recite um verso das escrituras reveladas relativo a meta última da vida.”

“Prabhu kahe “paḍa śloka sādhyera nirṇaya”” O Senhor Chaitanya pediu a Rāya Rāmānanda: “Você pode explicar qual é a nossa meta e o processo para a alcançarmos?” Qual é nossa meta? Alcançar Kṛṣṇa prema. Mas no começo o que devemos fazer?

“varṇāśramācāra-vatā puruṣeṇa paraḥ pumān

viṣṇur ārādhyate panthā nānyat tat-toṣa-kāraṇam”

(Śrī Chaitanya Charitāmṛta, Madhya līlā, 8.58/Viṣṇu Purāṇa, 3.8.9)

“A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, é adorado pela apropriada execução dos deveres prescritos no sistema de varṇa e aśrama. Não há outra forma de satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, é dever estar situado na instituição dos quarto varṇas e aśrāmas. ”

“Varṇāśramācāra-vatā puruṣeṇa paraḥ pumān” Se alguém segue as regras do varṇāśrama dharma então Bhagavan Viṣṇu ficará muito satisfeito. Qual é a nossa meta? Como satisfazer ao Senhor. ‘Bhagavat prasannatā’- Esse é o nosso objetivo, como agradar o Senhor.

Portanto, o primeiro śloka está explicando isso:

“varṇāśram ācāra-vatā puruṣeṇa paraḥ pumān

viṣṇur ārādhyate panthā nānyat tat-toṣa-kāraṇam”

Não há outra forma de agradar ao Senhor. Primeiro deve-se seguir o varṇāśrama dharma. Se vocês seguirem o varṇāśrama dharma então serão mais elevados do que os yogīs, jñānīs e outros.

Vou lhes dar um exemplo. Certa vez um brahmachāri realizou árduas austeridades; “chator tapasyā”. Por cerca de 30 anos ele deixou seu lar e foi para a floresta para realizar difíceis penitências. Ele permaneceu sob a ponta de seus dedos e ergueu suas duas mãos. O seu cabelo se tornou jata, enorme, e todo trançado (dreadlocks), mas ainda sim ele permaneceu realizando austeridades por trinta anos. Alguns pássaros chegaram até mesmo a construir um ninho em suas tranças. Porém, após trinta anos terem se passado, certo dia ele abriu seus olhos e nesse momento um pássaro saiu de seu ninho e defecou sobre o nariz do brahmachāri. Isso fez com que ele ficasse muito irado, de forma que quando abriu seus olhos avermelhados o pássaro foi queimado e reduziu-se a cinzas. Nesse momento então ele percebeu: “Destruí esse pássaro pela força de minhas penitências”.

Após isso ele deixou a floresta e, caminhando, alcançou uma região rural. Primeiro esse brahmachāri foi até a casa de um chefe de família, um perfeito gṛhasta. Não estou falando sobre um chefe de família de “cães e gatos”, mas de um perfeito gṛhasta. Procurem compreender o significado disso. Gṛhamedi não é o mesmo que gṛhasta.

“na gṛhaṁ gṛham ity āhur

gṛhiṇī gṛham ucyate

tayā hi sahitaḥ sarvān

puruṣārthān samaśnute”

(Śrī Chaitanya Charitāṁṛta, Adi Līlā, 15.27)

“Uma mera casa não é um lar, pois é a esposa quem dá ao lar o seu significado. Se alguém vive em casa com sua esposa, juntos eles podem realizar todos os interesses da vida humana.”

Se você vive em uma casa, isso não é “gṛha”. Gṛha significa “patnī saha, bhāryā saha nivasati”. Quando alguém vive em casa com sua esposa, realizando bhājana e sādhana ao Senhor, então pode ser chamado de gṛhasta. Isso sim é gṛha, gṛha mandira. Tal vida é chamada gṛhasta-jīvana.

O outro tipo de pessoa que vive em casa é o gṛhamedi. Medi são aqueles que estão muito apegados à própria casa e só se movimentam ao redor dela. No passado, alguns fazendeiros pegavam as sementes de trigo ou mostarda e colocavam um bastão no meio com uma corda e todas as vacas andavam ao redor do bastão, dando voltas em um mesmo lugar, isso é chamado medi. Aqueles que ficam apenas em suas casas, que não estão se dedicando a cantar, realizar bhājana e sādhana e que vivem apegados a esposa e filhos são chamados de gṛhamedi.

O Śrīmad Bhāgavatam e os Vedas explicam que a vida deles é completamente inútil. Gṛhasta significa realizar bhājana e sādhana a Kṛṣṇa. Apenas Kṛṣṇa é o centro.

Tulasi dāsa explica:

“chaki chalke sabke dekhe

kilke na dekhe koi

kilke jo pakad rahe

sabut rahe sei”

Agora estamos na era da ciência, portanto é muito dificil de entender, mas no passado dois pedaços de pedra contendo um buraco com um bastão no meio eram utilizados. Uma pedra ficava sempre se movendo. Se você colocava qualquer grão, trigo, arroz ou qualquer outra coisa, automaticamente eles seriam conduzidos até o chão, mas se algum desses itens emperrasse no meio por conta do bastão, então a pedra jamais seria triturada. Tulasi dāsa, portanto explica da seguinte forma:

“chaki chalke sabke dekhe”

Estamos todos presos ao chão por māyā, mas o bastão no meio representa Kṛṣṇa. Se vocês tomarem o abrigo de Kṛṣṇa então māyā não poderá lhes tocar, será incapaz de lhes triturar. Compreendem? Esse é o processo. Vocês serão salvos de māyā se tomarem abrigo nos pés de lótus de Kṛṣṇa. Portanto, gṛhasta e gṛhamedi não são a mesma coisa.

Voltando agora ao que estava dizendo anteriormente, aquele tyagī mahātmā, o yogi, foi até a casa de um gṛhasta perfeito e bateu à sua porta: “Bhikṣāmdehī! Bhikṣāmdehī!” “Dê-me alguma doação, esmolas”. Naquele momento, a casta esposa do gṛhasta o estava servindo, patī seva. Compreendam que “uma esposa casta” significa que ela ama a Kṛṣṇa e serve o seu marido. Nesse momento, ela foi até a porta e com uma voz muito suave disse “Mahātmā ji, por favor, espere alguns segundos. Agora estou servindo o meu esposo, após isso darei alguma doação a você”. O śāstra dá evidências de que se um sādhu vai até a sua casa e você não oferece nada a ele, perderá todo o seu sukṛti-puṇya. O sādhu acabará ficando com todo o seu puṇya e lançará todas as reações pecaminosas passadas dele sobre a sua casa. Compreendem? Se um sādhu vier, vocês devem lhe dar algo. Algo é melhor do que nada. Não pense “Se eu der algo, estarei perdendo”, pois, na verdade você obterá isso de volta milhares de vezes.

Quando Paramgurudeva construiu a Devānanda Gauḍīya maṭha, havia um homem que era completamente pobre. Ele era um artesão que vendia potes. Porém, ainda sim ele serviu Paramgurumahārāja e também fez uma doação a Devānanda Gauḍīya maṭha.

Se você der um centavo a um sadhu não pode ter idéia dos tipos de coisas que irá obter. O Śrīmad Bhāgavatam oferece evidências quanto a isso. O que foi que Sudāma Vipra ofereceu ao Senhor? Arroz quebrado e queimado. Ele nem sequer queria dar isso a Kṛṣṇa, porque pensou:

kvāhaṁ daridraḥ pāpīyān

 kva kṛṣṇaḥ śrī-niketanaḥ

brahma-bandhur iti smāhaṁ

 bāhubhyāṁ parirambhitaḥ

(Śrīmad Bhāgavatam 10.81.16)

“Quem sou eu? Um pecador, o pobre amigo de um brāhmaṇa. E quem é Kṛṣṇa? A Suprema Personalidade de Deus, pleno de seis opulências. No entanto, com Seus dois braços Ele me abraçou”.

“Onde estou eu, um pecaminoso brāhmaṇa, e onde está Kṛṣṇa? Como é possível que eu possa oferecer a ele arroz quebrado e queimado? Mas Kṛṣṇa arrancou de mim a força. Ele comeu o arroz mais de uma vez.” Portanto, não pensem “se eu der um centavo ao sādhu então me restará apenas noventa e nove por cento”. Vocês não têm idéia de quantos centavos virão. Isso é verdade e há muitos exemplos disso.

Aquele yogī estava na casa do gṛhasta e a esposa dele disse: “Mahātmā ji, por favor espere apenas alguns segundos”, mas aquele mahātma ficou muito irado. Manifestando um poderoso orgulho ele abriu seus olhos e disse: “Ei!”, mas aquela casta esposa disse: “Mahātmā ji, eu não sou um pássaro. Você não pode me reduzir a cinzas”.

Aquele brahmachāri, o yogī, pensou: “Ó! Eu não tenho nada”. Então ele partiu para outro local onde havia uma pessoa vendendo óleo, que em sânscrito é chamado “taila dar”. O yogī usou as mesmas palavras: “Bhikṣāmdehī”, “dê-me alguma doação”. Porém, aquele vendedor lhe disse: “Mahātmā ji, por favor espere alguns segundos. Agora estou falando com os meus clientes, após isso darei algo a você”. O brahmachāri ficou muitíssimo zangado com aquela atitude e novamente abriu seus olhos, desejando queimar aquele homem até que só sobrassem suas cinzas. No entanto, aquele tailadhar (vendedor de óleo) disse: “Você não pode me queimar. Eu não sou como aquele pássaro”.

O brahmachāri ficou muito surpreso e pensou: “Essa pessoa me disse as mesmas palavras que aquela casta senhora. Como eles sabem que eu queimei o pássaro naquela floresta? Agora eu não tenho poder algum. Não sou capaz de fazer nada”.

Após isso ele foi até um lugar onde havia um sādhu e perguntou o porquê do ocorrido. O sādhu então lhe disse: “Ouça: karma, jñana, yoga, tapasyā são completamente inúteis. Aquela casta senhora realiza bhājana e sādhana ao Senhor, ela é uma gṛhasta perfeita e, portanto, é superior a você. Quanto àquele tailadhar, ele também segue as normas e todos os princípios da sociedade. Portanto, ele está em um nível superior”.

A conclusão dessa história é de que se você seguir todas as normas do gṛhasta aśrāma, sua vida será bem-sucedida. Caso contrário ela será inútil. Portanto, gṛhasta jīvana pode ser a melhor vida.

Em Vṛndavana, todos servem Kṛṣṇa com o corpo, a mente e a fala. No Śrīmad Bhāgavatam, Śukadeva Gosvamī disse a Parikṣit Mahārāja: “Observe como todas as árvores de Vṛndavana servem Kṛṣṇa. Quando Ele aparece aqui, automaticamente as árvores com seus galhos criam sombra sobre a Sua cabeça, assim como um discípulo fidedigno protege seu guru com um guarda-chuva enquanto ele caminha. Tão logo Kṛṣṇa chegue em Vṛndavana automaticamente as pétalas das flores começam a cair e a formar um belo e macio tapete para Ele, pois elas pensam: “Nosso amado Kṛṣṇa chegou, mas como Ele poderá andar por Vṛndavana? Seus pés são tão macios”. Até as frutas se aproximam de Kṛṣṇa...

[verso]

…automaticamente o mel começa a cair e Kṛṣṇa, Balarāma e os sakhas o lambem. As folhas e trepadeiras também começam a se mover quando Kṛṣṇa aparece. Sabem porquê? Elas estão abanando Ele, assim como chāmaras (abanos). Em Vṛndavana todos possuem muito amor e afeição.

Viśvanātha Chakravartipāda explica que em Vṛndavana as árvores são chefes de família, gṛha svāmī, as trepadeiras são suas esposas (patnī), as flores, suas filhas e os frutos, seus filhos. Dessa forma, esposo, esposa, filhos e filhas servem a Kṛṣṇa em Vṛndavana.

Govinda Dāmodara Mādhaveti

Govinda Dāmodara Mādhaveti

Govinda Dāmodara Mādhaveti

Govinda Dāmodara Mādhaveti

Portanto, todos são chefes de família em Vṛndavana. Geralmente as pessoas pensam: “A vida familiar é inútil, a vida de sanyāsī é o melhor tipo de vida que se pode ter”, mas o śāstra não diz isso, afinal quem é sanyāsī em Vṛndavana? Quem irá servir a Kṛṣṇa? Observem as árvores. Todas elas servem Kṛṣṇa.

O próprio Nārada Rṣi diz: “Ei, Yudhiṣṭhira Mahārāja, embora eu seja um membro da ordem renunciada – sanyāsī – e não tenha um lar, Kṛṣṇa sempre permanece contigo. Mesmo você sendo um gṛhasta, Kṛṣṇa está sempre em sua casa”.

yūyaṁ nṛ-loke bata bhūri-bhāgā

 lokaṁ punānā munayo ’bhiyanti

yeṣāṁ gṛhān āvasatīti sākṣād

 gūḍhaṁ paraṁ brahma manuṣya-liṅgam

(Śrīmad Bhāgavatam, 7.15.75)

“Meu querido Mahārāja Yudhiṣṭhira, vocês Pāṇḍavas são tão afortunados nesse mundo que muitos santos grandiosos, que podem purificar todos os planetas do universo, vêm até a sua casa como visitantes ordinários. E mais, a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, vive confidencialmente contigo em sua casa, como se fosse seu irmão”.

Nārada Rṣi citou esse verso:

“yūyaṁ nṛ-loke bata bhūri-bhāgā”.

“Ei, Yudhiṣṭira Mahārāja, vocês todos são muito afortunados pois Kṛṣṇa permanece em sua casa. Kṛṣṇa é seu amigo perfeito”. Quem pode ser chamado de amigo? Nesse mundo material quem é seu amigo? Geralmente a definição de amigo é:

“Ustsave vyasanī caiva rāja dvare svasanīcha já tiṣṭhati sa bāndhava”

Quem é seu amigo? ‘Ustsave’- se está acontecendo um festival e sem que você tenha feito qualquer convite, uma pessoa aparece no festival e ajuda você nesse festival, esse é um amigo. ‘Vyasanī caiva’, ou se uma cerimônia de casamento está acontecendo e alguém vem para lhe ajudar, ele é seu amigo. ‘Rāja dvare’- se de alguma forma você está preso, alguém que lhe ajude a sair da prisão também é considerado seu amigo. ‘Svasanīcha’ – após sua morte, aquele que o acompanha até o cemitério é chamado‘svasana bandhu’.

“Ustsave vyasanī caiva rāja dvare svasanīcha já tiṣṭhati sa bāndhava”

Esses são os assim chamados amigos. Mas quem é o seu verdadeiro amigo? O Śrīmad Bhāgavatam explica:

“Se-i se param bandhu, se-i pita-mata

śrī kṛṣṇa charaṇa jei prema-bhakti-dāta”

(Sri Chaitanya-maṅgala)

“Aquele que me concedeu prema-bhakti aos pés de lótus de Kṛṣṇa é o meu amigo supremo. Ele é o meu eterno pai e minha eterna mãe”.

O seu melhor amigo é aquele que lhe dá Kṛṣṇa-prema, Kṛṣṇa-bhakti. Ele é o seu verdadeiro amigo. Quem dará e quem aceitará Kṛṣṇa-bhakti? Quem aceitará? Levante as mãos. Se vocês realmente desejam Kṛṣṇa-bhakti deveram seguir as instruções do Senhor Chaitanya Mahāprabhu. Essa é a questão.

“Se-i se param bandhu, se-i pita-mata”

Tal pessoa é minha verdadeira mãe, pai, esposo, esposa, irmão ou irmã, se puder me dar Kṛṣṇa-bhakti.

gurur na sa syāt sva-jano na sa syāt

 pitā na sa syāj jananī na sā syāt

daivaṁ na tat syān na patiś ca sa syān

 na mocayed yaḥ samupeta-mṛtyum

(Śrīmad-Bhāgavatam 5.5.18)

“Alguém que não pode liberar seus dependentes do caminho de repetidos nascimentos e mortes jamais deve se tornar um mestre espiritual, um pai, um esposo, mãe ou um semideus que possa ser adorado”.

“gurur na sa syāt sva-jano na sa syāt”

Ele não é um guru verdadeiro, se não pode me conferir Kṛṣna-bhakti. Não é minha verdadeira mãe, nem pai, esposa ou esposo, se não pode me conferir Kṛṣna-bhakti. O Śrīmad Bhāgavatam explica claramente. Isso é muito importante.

Se você segue todas as normas da sociedade e realiza bhājana e sādhana, então sua vida será bem-sucedida, mas para isso é necessário ter fé, dṛḍha-viśvāsa. Sem fé, você jamais poderá alcançar a perfeição. Eis um belíssimo exemplo. Uma vez Nārada Rṣi foi até a casa de um chefe de família, mas essa pessoa estava sofrendo de lepra. Ele segurou os pés de Nārada e disse: “Ó Rṣi, por favor, conceda-me sua misericórdia, pois devido ao meu mau karma, estou sofrendo com essa doença”. Se vocês cometerem atividades pecaminosas, terão de sofrer.

“apāṇi karile pāpa apāṇi daiye”

Se vocês cometerem atividades pecaminosas, terão de sofrer. Compreendam isto, pois é muito importante. Este homem disse a Nārada Rṣi: “O que farei agora?” E Nārada respondeu: “É verdade, o que você fará agora? Como poderei lhe ajudar?” Mas aquele homem se agarrou aos pés de Nārada Rṣi e chorou: “Ó, por favor, dê-me sua misericórdia”. Então, Nārada disse: “Ouça, por um mês inteiro você deve com fé firme ouvir o Mahābhārata continuamente. Dessa forma será curado de sua doença. Mas qual é a condição para isso? Fé firme. Isso é chamado dṛḍha-viśvāsa. Não deve haver qualquer dúvida. Compreende? Se você duvidar então perderá tudo”. O homem então prometeu: “Sim, ouvirei Mahābhārata-kathā por um mês. Por favor, me dê aulas”.

Nārada Rṣi então falou Mahābhārata-kathā por um mês. Durante vinte e nove dias, explicou Mahābhārata-kathā, que é muito interessante e estava acontecendo todos os dias na casa do homem. O que isso significa? Isso é lutar! Em sua casa, no seu país, vizinhança, todos os dias, e mesmo em suas mentes. Por vinte e nove dias, o chefe de família ouviu Mahābhārata-kathā dos lábios de lótus de Nārada Rṣi. Então, automaticamente toda a sua lepra desapareceu, exceto uma parte abaixo de sua unha, pois ficou faltando um dia para acabar. Neste dia, Nārada Rṣi falou sobre o caráter de Bhīma. Ele disse: “Ouça, Bhīma era muito poderoso. Quando ainda era um pequeno garoto de seis ou sete anos de idade, ele fez malabarismo com cerca de cinco, seis ou dez elefantes. Em um desses dias, jogou um dos elefantes e ele voou pelos céus a uma grande distância e ainda hoje esse elefante se desloca nos céus”.

Nesse momento, o chefe de família disse: “Mahārāja, essa é demais para mim! Como é possível que uma pessoa faça malabares com dez elefantes e um desses elefantes que foi jogado até hoje voa pelos céus? Não posso acreditar nisso. Como é possível? Isso é demais! Isso se chama atisvyaukti! Você está exagerando. Isso não está perfeito”.

Nesse momento, Nārada Rṣi pensou: “Ó meu Deus!”

“saṁśayātmā vinaśyati”

No Śrīmad Bhagavat Gītā, Kṛṣṇa diz que se você duvidar de śāstra e guru, perderá tudo.

ajñaś cāśraddadhānaś ca

saṁśayātmā vinaśyati

nāyaṁ loko ’sti na paro

na sukhaṁ saṁśayātmanaḥ

(Śrīmad Bhagavad Gītā 4.40)

“Mas as pessoas ignorantes e descrentes que duvidam das escrituras reveladas não alcançam a consciência de Deus; elas caem. Para a alma que duvida, não há felicidade nesse mundo e nem mesmo no próximo”.

Nārada Rṣi disse: “Você não tem fé? Porque não? Olhe isso…” Nārada bateu palmas uma, duas, três vezes e então um elefante caiu do céu. Como isso pode ser possível? Tudo é possível. Nārada Rṣi disse: “Bhīma não é uma pessoa ordinária. Às vezes o Senhor Nṛsiṁhadeva toma possessão do seu corpo”.

O Mahābhārata explica que quando Bhīma lutou contra Duḥśāsana, abrindo o peito dele e tomando seu sangue, estava muito irado e desafiou a todos: “Alguém lutará comigo? Algum Kaurava ou Pāṇḍava?” Arjuna então pegou o seu arco e disse: “Eu irei, pois sou um kṣatriya; quem quer que me desafie, tenho de enfrentar”.

Kṛṣṇa disse “Arjuna, você não deve ir. Você não pode lutar contra Bhīma, pois ele é a Minha própria encarnação Nṛsiṁhadeva, que se manifestou em seu corpo”.

Vocês devem ler o Mahābhārata, isso é claramente explicado lá. Quando Bhīma abriu o peito de Duḥśāsana e bebeu o seu sangue, (nesse momento ele) ficou muito feroz, tal qual um leão. Kṛṣṇa disse: “Arjuna, você não sabe quão poderoso ele se tornou agora. Ninguém pode ficar diante dele. Eu mesmo não irei. Nṛsiṁhadev, a Minha própria encarnação (Bhāgavata) entrou em seu corpo”. Então, Nārada disse: “Ouça, se o próprio Senhor se manifesta em alguém, essa pessoa não pode fazer nada. Realizar malabares com dois, três ou quatro elefantes e arremessar um deles não é nada, pois o Senhor pode fazer qualquer coisa. Para o Senhor Nṛsiṁhadev, o que é jogar um único elefante? Mesmo dez mil elefantes são como um grão de mostarda para Ele. Você perdeu sua fé e é devido a isso que a lepra presente nessa pequena área do seu corpo não foi removida”.

Qual é o propósito dessa história? Você precisa ter fé.

A vida espiritual depende completamente da fé. Isso é chamado dṛḍha-viśvāsa, śāstra-viśvāsa, fé no śāstra e em guru vakya (as palavras do mestre espiritual). Mas não se trata de fé cega. Vocês não devem ser como Sunanda Gāndharva, da história que Śrīla Gaura Govinda Mahārāja contou e eu também muitas vezes já contei.

Uma vez, um lavadeiro (homem que lava roupas), após ter raspado sua cabeça, encontrou-se com um sacerdote real, que então lhe perguntou: “Ei! Porque raspou sua cabeça?” E o homem respondeu: “Hoje é o dia mais auspicioso, porque Sunanda Gāndharva abandonou o corpo”. O sacerdote não perguntou quem era esse tal de Sunanda Gāndharva, mas como esse nome lhe soava bem ele também raspou a cabeça. Então o sacerdote encontrou o ministro, que lhe disse “Ei, Sacerdote! Porque você raspou sua cabeça?” O sacerdote então lhe respondeu: “Hoje é o dia mais auspicioso, porque hoje Sunanda Gāndharva abandonou o corpo”. O ministro, assim como o sacerdote, não perguntou quem era Sunanda Gāndharva e em seguida raspou a cabeça. Após isso, o ministro encontrou-se com o rei, que disse: “Ei, Ministro! Porque raspou sua cabeça?” “Hoje é o dia mais auspicioso de todos. Sunanda Gāndharva abandonou o corpo”, respondeu o ministro. O rei também não perguntou quem ele era e da mesma forma que os demais, raspou a cabeça. A rainha então se encontrou com o rei e disse: “Ei, Rei! Porque raspou sua cabeça?” O rei lhe respondeu: “Não há dia mais auspicioso que hoje, pois Sunanda Gāndharva abandonou o corpo”. E a rainha perguntou: “E quem é Sunanda Gāndharva?” “Ó, eu não sei, o meu ministro foi quem me disse isso”, respondeu o rei. A rainha então foi até o ministro e lhe perguntou: “Quem é Sunanda Gāndharva?” O ministro respondeu: “Ó, eu não sei. Foi o sacerdote real quem me disse ser hoje o mais auspicioso de todos os dias”. Assim, a rainha prosseguiu até o sacerdote real e perguntou: “Quem é Sunanda Gāndharva?” Mas o sacerdote respondeu: “Ó, eu não sei. Quem me falou sobre ele foi o lavadeiro”. A rainha foi até o lavadeiro e refez a pergunta: “Ei! Quem é Sunanda Gāndharva?” E o homem por fim respondeu: “Ó, rainha, mahārānī, eu tinha um burro que abandonou o corpo, cujo nome era Sunanda Gāndharva. Essa é a razão de eu ter raspado a minha cabeça”.

Śrīla Gaura Govinda Mahārāja foi quem contou essa história. Seguir alguém usando uma venda, sem conhecimento e sādhu-sanga e sem o estudo das escrituras se chama fé cega. Vocês devem estudar o śāstra com fé firme; dṛḍha viśvāsa – então serão capazes de adentrar essa filosofia. Sem sādhu-sanga e o estudo das escrituras – Vedas, Purāṇas ou Upaniṣads – vocês não poderão adentrar śuddha-bhakti apropriadamente.

Tentem seguir isso. Aprendam como servir a Kṛṣṇa. Se você é um gṛhasta, brahmachāri, vanaprastha ou sanyāsī, não importa, cante os santos nomes e siga os quatro princípios. O guru-varga nos relembra repetidas vezes sobre algo muito importante:

“gṛhe bā vanete thāke, 'hā gaurāńga' bo'le ḍāke, narottama māge tāra sańga”

(Gaurāńgera duṭi pada, quarto verso)

“Se alguém vive no lar como um gṛhasta, ou na floresta como um renunciante, enquanto ele exclamar “Ha Gaurāṇga!” Narottama Dāsa implorará por sua saṅga”.

Narottama dāsa Ṭhākura é quem canta essa melodia. Se alguém serve a Guru e Kṛṣṇa, tanto faz permanecer como um chefe de família ou adotar a ordem renunciada. Sirva a Ṭhākuraji, os vaiṣṇavas e cante os santos nomes. Podemos ver que a maior parte dos devotos do Senhor Chaitanya Mahāprabhu eram gṛhastas, como Nityānanda Prabhu, Advaita Āchārya, Śrīvasa Ṭhākura.

Para onde os tyagis, brahmachāris, vanaprasthas e sanyāsīs estão indo? Para a casa dos gṛhastas. Mas há algo muito importante: vocês devem seguir os quatro princípios (não comer carne, não praticar sexo ilícito, não jogar e não se intoxicar). Se vocês não seguirem esses quatro princípios, então o que será da casa em que vivem? Será como o inferno (Naraka). Cantem os santos nomes, sigam os quatro princípios, sirvam o guru e os vaiṣṇavas, tudo isso é importantíssimo.

Devido a isso, Rāya Rāmānanda disse:

“prabhu kahe, — “paḍa śloka sādhyera nirṇaya”

rāya kahe, — “sva-dharmācaraṇe viṣṇu-bhakti haya” ”

(Śrī Chaitanya Charitāmṛta, Madhya līlā 8.57)

“Sva-dharmācaraṇe” significa varnāśrama dharma.

Jīva svarūpa anubandhī significa Kṛṣṇa bhakti anuśīlanaṁ (o cultivo de devoção imaculada a Kṛṣṇa). Śaraṇāpati significa que a natureza espontânea da alma é servir a Kṛṣṇa. Seguir o varṇāśrama dharma é algo externo, portanto, Chaitanya Mahāprabhu disse:

“eho bāhya, āge kaha āra”

(Śrī Chaitanya Charitāmṛta, Madhya, 8.59)

“Isso é externo. É melhor você me dizer outra coisa”.

Chaitanya Mahāprabhu queria ouvir acerca de nossa perfeita svarūpa anubandhī dharma – a espontânea natureza da alma, que é a de servir a Kṛṣṇa.

jīvera ‘svarūpa’ haya — kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’

(Śrī Chaitanya Charitāmṛta, Madhya, 20.108-109)

Como serviremos Kṛṣṇa? Chaitanya Mahāprabhu disse que seguir o varṇāśrama dharma - brahmachāri, gṛhasta, vanaprasthi e sanyāsa, ou brāhmaṇa, kṣatriya, vaisya e śudra - é externo. Mas não pensem, “Ó, isso é externo, então não há qualquer necessidade de se seguir o varṇāśrama dharma”.

O śāstra explica o seguinte quanto a isso:

śruti-smṛti-purāṇādi-

pañcarātra-vidhiṁ vinā

aikāntikī harer bhaktir

utpātāyaiva kalpate

(Bhakti-rasāmṛta-sindhu 1.2.101, Śrīla Rūpa Gosvāmī)

“Mesmo que uma pessoa esteja dedicada em devoção inadulterada a Hari (aikāntiki-hari-bhakti), se ela viola as normas mencionadas no śruti, smṛti, purāṇas e no Nārada-pañcarātra, desvios (anarthas) perturbadores se darão”.

Eu já expliquei essas questões. Se você não segue todas as regras das escrituras, śruti, smṛti, nārada-pancharātra, e pensar: “sou unidirecionado (em minha devoção), então não há necessidade de seguir as normas”, você causará distúrbios na sociedade e a sua própria mente. Dessa forma, você jamais adentrará em śuddha-bhakti.

A esse respeito, todo o nosso guru-varga explica, lentamente progridam em bhakti-marga-jīvana. Sigam o varṇāśrama-dharma e cantem os santos nomes.

Caso contrário, que diferença há entre os Gauḍīya vaiṣṇavas e os Sāhajiya babajis? Sāhajiyas não querem seguir as normas do varnāśrama-dharma. Portanto, Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda restabeleceu o daiva-varṇāśrama-dharma. O Śrīmad Bhagavad Gītā discorre sobre isso; Kṛṣṇa explica quem é um brāhmaṇa, um kṣatriya, um brahmachāri e um gṛhasta. Tudo isso é muito importante.

“sve sve ’dhikāre yā niṣṭhā

 as guṇaḥ parikīrtitaḥ

karmaṇāṁ jāty-aśuddhānām

 anena niyamaḥ kṛtaḥ

guṇa-doṣa-vidhānena

 saṅgānāṁ tyājanecchayā”

(Śrīmad Bhāgavatam 11.20.26)

“Declara-se firmemente que a adesão constante dos transcendentalistas a suas respectivas posições espirituais constitui a verdadeira piedade e que ocorre o pecado quando o transcendentalista negligencia seu dever prescrito. Aquele que adota esse padrão de piedade e pecado, com o sincero desejo de abandonar toda relação passada com o gozo dos sentidos, é capaz de subjugar as atividades materialistas, que são impuras por natureza”.

Deve-se seguir as normas de acordo com a qualificação individual. Você pertencerá a um varṇa e aśrama que esteja de acordo com o seu svabhāva (natureza). Se possuir o svabhāva de um brāhmaṇa então você se tornará um brāhmaṇa. Satyam, śaucam, dayal, pavitratā. Essa é a natureza (svabhava), ou os guṇas (qualidades) de um brāhmaṇa. Satyam significa veracidade, śaucam é limpeza,daya significa oferecer misericórdia aos seres, pois o brāhmaṇa tem compaixão por todos e aiṣṭika indica que ele é dotado de fé no śāstra e em sādhu-vakya, as instruções do guru e das escrituras.

O Śrīmad Bhagavad Gītā discorre acerca das qualidades de todos os quarto varṇas e aśrāmas e de como cumpriremos apropriadamente com essas funções. Todas essas coisas são essenciais. Se não seguimos esses princípios então a vida passa a ser inútil. Estou, portanto, abordando como o nosso guru-varga veio da Índia aos países ocidentais para pregar a cultura védica, sobre como poderemos adentrar a filosofia dos Vedas e alcançar a consciência de Kṛṣṇa.

Bolo Vṛndavana Bihari Lal Ki Jaya!

Rādhe Govinda Rādhe Govinda!

*Transcrito para o inglês por Jayānandinī didī – UK; ślokas por Purandarāchārya prabhu - Puri/UK; tradução para o português por Goura Hari dāsa.

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